Arte x Tecnologia


posted by Jessica Tavares on

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A Arte tem o intuito de surpreender. Cada instrumento usado para torná-la completa é inovador e os mais diferentes resultados mostram que fazer arte é arte. Pensando nisso fomos conversar com um dramaturgo e um addicted em tecnologia para fazer uma análise do cenário cultural e tecnológico. Luiz Dias é dramaturgo e Mark Reginatto é apaixonado por tecnologia. Duas opiniões, dois pontos de vista para dois assuntos contrários que surpreendentemente se unem e causam transformações.


Guizos: Uma peça que traz a beleza do teatro combinados com efeitos de som e iluminação Foto: Gabriela Keller



Bastidores da Arte: Como você vê o cenário artístico hoje no Brasil? 

Luiz Dias: O cenário é promissor. Mas faço essa análise com ressalvas. Nos últimos anos, principalmente após o iní- cio da gestão do Gilberto Gil, o Ministério da Cultura ganhou um fôlego (financeiro e conceitual) inédito. Antes, na época dos neoliberais, era uma tragédia. Um horror. Hoje mudou muito. Hoje, debatemos o Sistema Nacional, o Fundo, os Pontos de Cultura, e tantos outros projetos gerais ou setoriais em, pelo menos, 19 áreas. Hoje, estamos rediscutindo as discrepâncias da Lei de Incentivo a Cultura. E isso, aler- to a todos, é um avanço considerável. Mas este processo, ao meu ver, ainda é unilateral, pois debate o fomento e a valorização do patrimônio cultural – incontestável – mas fecha-se perigosamente à produção artística, feita através de pesquisa, ou seja, da inovação estética. Entendo arte como o novo e cultura como o velho. Isso não significa que esta é melhor que aquela, ou vice-versa, mas que ambas são fundamentais, essenciais. Observe: a grande maioria do editais ainda carrega, nos critérios de avaliação, termos como “inserção social” ou “contrapartida social”. Eu sou de esquerda, marxista, então posso dizer sem medo: esse apelo social com olhos somente na cultura é, hoje, o que há de mais burro na esquerda. Temos no poder - pois a esquerda está no poder - a chance de reverter o histórico esquecimento da cultura e do patrimônio mas, também, de reinventar a arte. É nosso dever.

Bastidores da Arte: Como você vê o cenário tecnológico? 

Mark Reginatto: A partir do momento que as pessoas estiverem mais contato, mais acesso às diferentes tecnologias, o mundo vai se transformar muito. As coisas estão mudando muito rápido e alguns são privilegiados por ter acesso ao que está saindo de novo mas são poucos os privilegiados. No meu dia a dia a tecnologia é um instrumento necessário e está presente a todo momento. Cada dia que passa tudo está ficando mais fácil e mais fácil de manusear, como exemplo são os diferentes dispositivos criados e os plugins e acessórios para os mesmos. Não há como medir o impacto que isso está fazendo em nos- sas vidas principalmente nas relações pessoais. Você pode andar e notar a sua volta como as pessoas estão conec- tadas, você vê um grupo de amigos e cada um deles está usando a internet de uma forma e assim elas não conversam. E então, até quando nós vamos deixar a tecnologia vai interferir na nossa vida?! E esta resposta é uma questão individual, cada um escolherá o que fazer da melhor forma.

Bastidores da Arte: Arte x Tecnologia, como essas duas vertentes podem se unir? Quais os pontos negativos e positivos?

Luiz Dias: Sendo a arte o novo, ela pode se fundir com a tecnologia de inúmeras formas. E isso é saudável, é bonito. A ideia da arte como clássico, do teatro como figurinos luxuosos, etc, já passou. É um horror ver um Shakespeare hoje. Hamlet morreu há muito tempo, chega! Isso é cultural, é péssimo. Mesmo as versões “atualizadas”, as chamadas “releituras”, são patéticas. São piores que aquelas rimas mal traduzidas ou aquele Coro Grego. Essas coisas foram bonitas há centenas, milhares, de anos. É como ter um relógio de pêndulo em casa. Não serve para nada. Nós o guardamos por simpatia. Apenas. E a nostalgia é o pior dos sentimentos humanos. Temos que inovar, recriar o mundo, o tempo e o espaço. E isso podemos aprender com a tecnologia. Agora, veja bem, há diretores e artistas usando tecnologia por usar, só pra dizer que são contemporâneos. Por exemplo: teatro com projetor multimídia no palco é feio, sem sentido. Não basta colocar um computador lá e falar que é contemporâneo. Tem que ir além. Usar recursos na composição de trilhas sonoras, de efeitos visuais (bem feitos), de música eletrônica tocando com pessoas de carne e osso. Aí sim fica estético, inovador, bonito.

Bastidores da Arte: Arte x Tecnologia, como essas duas vertentes po- dem se unir? Quais os pontos negativos e positivos? 

Mark Reginatto: A união de tecnologia e arte é muito posi- tiva porque nessa área você pode ser vanguarda. Você pode oferecer para o público coisas totalmente novas. Coisas que antigamente seriam impossíveis, hoje com o uso da tecnologia transforma a arte. Um museu por exemplo oferece as peças de maneira interactiva de maneira que as pessoas possam conhecer a arte de uma forma diferente. Hoje está mudando a forma de interpretação da arte onde as pessoa.

Bastidores da Arte: A arte pode influenciar a tecnologia e vice-versa?

Luiz Dias: Sim! Quando inventaram a guitarra, um instrumento elétrico, anunciaram o fim da beleza musical e veja hoje o quanto ela é fundida à boa música. Outro exemplo: o ícone da tecnologia, Steve Jobs, para mim, foi extremamente influenciado pelos minimalistas americanos de New York. Arte e Tecnologia se merecem, se complementam. Ambas recriam o mundo. Extirpam o velho. Veja como o teatro ganhou nova roupagem com a evolução dos equipa- mentos iluminação. A dança então, nem se fale. E há tantos exemplos que arrisco a dizer que tirar a tecnologia da arte e a arte da tecnologia é uma prova de conformidade com o passado, com a sanidade. E passado e sanidade não com- binam com arte. Nem um pouco.

Bastidores da Arte: A arte pode influenciar a tecnologia e vice-versa? 

Mark Reginatto: As pessoas que não tem contato à tec- nologia quando a arte mostra, ela vai impressionar ainda mais. E nisso a tecnologia aumenta o alcance, um exemplo seria uma esquete sendo apresentada no meio da praça e os atroes sem microfone, poucos pessoas ouviriam. Se tiver uma caixinha de som, mais pessoas poderão ouvir e se ainda a peça tiver sendo projectada num prédio o alcance será muito maior. Isso é bem básico mas quando você pensa em laser, internet e tudo a diferença e o alcance é muito maior.

Bastidores da Arte: E o futuro, como poderá ser? 

Luiz Dias: Creio que a fusão será mais efetiva. Mais profunda. Gostemos ou não, é o futuro. Quem não se adap- tar, vai ficar pra trás. Um amigo, dia desses, falou que a arte ficará, em alguns anos, mais interativizada. Com o espectador podendo, por exemplo, decidir os rumos de um espetáculo. Mas eu acho que isso não chega a tanto. A interatividade é um fenômeno atual, vai passar. O povo está empolgado com o facebook, com o twitter, etc. Está empolgado porque, com esses mecanismos, ganhou voz. Mas esta onda passa e, com o tempo, as pessoas voltam a viver suas vidas longes dessas futilidades. Vão enjoar. Aí a tecnologia vai ser usada para outras coisas, como produzir sensações ou invés de sentimentos, orgasmos estéticos ao invés de idiotas catarses orientadas. Agora, eu digo, a arte e a tecnologia vão se amalgamar, mas esta sempre será submissa àquela. Pois a tecnologia é fruto do homem, do consciente, e a arte é fruto de outra instância – real – habitável e, para sorte dos homens, incompreensível.

Arte Cibernética
Imagine-se num espaço em que as paredes são todas brancas e nelas estão pendurados pequenos quadros com rabiscos que representam os ruídos de uma caixa de som que fica situado logo abaixo. Agora imagine você poder controlar a batida da música que está dançando, somente com os movimentos que faz. E que tal ouvir um pequeno robô citar Shakespeare? Essas entre outras coisas foram apresentadas em um evento do Itaú Cultural. 

O espaço separado para exposição é cheio de surpresas, cada porta que entrávamos trazia uma ideia diferente e a confirmação de que a arte pode se traduzir através da tecnologia. A outra novidade era um painel que transmitia fotos dos próprios visitantes. Em frente ao painel havia duas cabines com scanner. Era só aproximar o rosto, ser “escaneado” e pronto! Nos tornamos parte da exposição.

Todas as obras são surpreendentes e fazem com o que o visitante participe de alguma forma, a união de arte e tecnologia nunca foi tão clara para mim. Cada obra mexe com um dos sentidos humanos e causa uma experiência única.

O importante neste momento é desfrutar da tecnologia e aplicar à arte e vice-versa. Unir as duas e levar conhecimen- to, cultura, inclusão digital a toda a população. Duas vert- entes que se unirem vão causar grandes transformações e para que isso se torne realidade, as duas áreas devem ser levadas em consideração e principalmente o apoio aos provedores. Artistas e tecnólogos, uni-vos!


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Jéssica Tavares

Futura jornalista, Jéssica Tavares divide seu tempo entre estudar para o curso de comunicação social e trabalhar como analista de mídias sociais. Ler, escrever, criar, fotografar, fazer arte é o que move o seu dia a dia.


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