Cinemando com o cineasta Vander Colombo


posted by Jessica Tavares on ,

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  Os filmes hollywoodianos sempre foram destaque nos cinemas brasileiros, mas as produções nacionais também estão conquistando a atenção do público. Filmes como Tropa de Elite, De pernas pro ar e Cilada ponto com, fizeram bastante sucesso entre os brasileiros batendo até recordes de bilheteria.
  Mas para saber se estamos no caminho certo, fomos à procura de quem entende do assunto, o publicitário e cineasta Vander Colombo.
  Ele nos deu uma verdadeira aula sobre as produções e a situação do cinema brasileiro. Confira!

Vander (à esquerda) em cena
Como você classificaria o cinema brasileiro no momento?
O cinema brasileiro já teve uma fase áurea no que tange os movimentos da área que foram os 60 com o Cinema Novo e o Cinema Marginal, ambos extremamente festejados lá fora e renegados em território nacional. Hoje o cinema brasileiro tenta se firmar como produto, como comercial. Isso trouxe uma nova geração de volta as salas de cinema, porém distanciou-o por completo de uma arte tipicamente brasileira. O que os cineastas brasileiros tem feito é nada mais do que tentar entrar no mercado do cinema industrial, padronizando seus filmes em formatos clássicos de Hollywood com menos 10% dos orçamentos de lá.
Empobrece a arte, mas enriquece seus produtores e principalmente os donos das salas de cinema.

Você acha que a apelação do cinema nacional para as piadas sobre o cotidiano e a exploração das realidades das favelas prejudica seu destaque fora do Brasil?
As comédias como Se Eu Fosse Você não tem nada de brasileiro, são cópias de filmes já feitos dezenas de vezes em Hollywood e que comumente povoam as sessões da tarde. Como já dito, é um fórmula que um dia deu certo comercialmente e é repetida além da exaustão, desta vez com caras conhecidas das novelas globais, na verdade um filme desses nem tem pretensões de estrear onde as tais novelas não fazem sucesso, esses filmes são para mercados interno, uma extensão da novela das nove para a tela grande.  Já filmes sobre favelas tem o efeito contrário, eles em geral são os preferidos lá fora e como tal são “para inglês ver”, um falso estudo antropológico de uma realidade que é distante deles, porém num viés social interno são praticamente nulos, mas discordo completamente que eles “prejudiquem o destaque” do cinema brasileiro lá fora. É o que o estrangeiro hoje espera do cinema contemporâneo brasileiro: outro Cidade de Deus.

Você acha que apelação das produções para o humor é uma forma de buscar um sucesso “fácil”, pois é o que mais vende? Ou é o mais fácil de produzir?
É simplesmente mais uma maneira. Se o cinema não gerasse tanto lucro para uma minoria, certamente só teríamos filmes de qualidade. Mas o cinema comercial é extremamente rentável e torna-se como um negócio qualquer. E o que vende mais, comida nutritiva ou fast-food?  Na verdade há muitíssimos filmes bons sendo produzidos no Brasil porém esse processo acaba relegando-os em favor dos filmes que venderão mais bilhetes. E um coisa que certamente nosso Ministério da Cultura faz, principalmente ao escolher representantes, é nivelar por baixo entre as maiores bilheterias, o que é uma tremenda idiotice. Nossos melhores filmes nunca foram os mais populares, infelizmente.

Você acha que o a ascensão das classes C e D influenciou na nova característica do cinema brasileiro?
Depende, mas isso em tese é coisa de publicitário e não de cineasta. Se tomarmos por base nosso sociólogo wanna be Joãozinho Trinta “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de ver luxo”. A maior parte dos filmes são feitos para classe alta retratando a classe baixa e as novelas fazem o caminho oposto. Filmes sobre classe média em geral não são produzidos , por que? Porque a classe média está sempre à deriva, ela não navega. Não há nada de interessante num típico homem de classe média que valha a pena ser levado pra tela, o grosso da classe média forma suas opiniões ao bel prazer da mídia, são conservadores maniqueístas e não se arriscam em praticamente nenhum seguimento de suas vidas, porém é classe que mais consome filmes, seja no cinema, sejam piratas ou seja em downloads ilegais. Por conta dessa inércia cotidiana, obviamente os filmes comerciais, com heróis e bandidos bem definidos desde o início, muita ação e de preferência um triunfal final feliz. Qualquer classe busca nos filmes uma fuga da realidade nos filmes comerciais, quanto mais distantes do chão melhor. Não é um problema do cinema, é um problema cultural. Uma multidão consome bizarrices televisivas, programas policiais, programas de auditório/entrevista com apresentadores despejando raiva e senso comum batendo cassetete intercalado com reportagens violentas e opiniões sensacionalistas, e aos poucos se convencem que essas pessoas são ídolos, que são inteligente e incorruptíveis. Não é por acaso o sucesso comercial de um filme como Tropa de Elite, isso é bem estudado e assimilado. Enquanto houver demanda, haverá oferta.

O que falta ao nosso cinema para que possa se destacar não só aqui, mas também no mundo?
Antes de mais nada, existir um cinema brasileiro, o cinema brasileiro dentro do panorama de filmes que atingem a maioria das salas, inexiste hoje. Esse cinema brasileiro é aquele estagiário que observa o patrão humilhá-lo, mas sobrevive pelo desejo de um dia ser ele. Esse estagiário é competente, poderia montar seu próprio negócio e com o tempo derrubar muitas peças abaixo do patrão, mas prefere continuar lá, subserviente e puxa-saco. Nossas superproduções hoje, são produções B americanas.  Não impomos respeito como cinema, porque não temos um cinema brasileiro. Algo como a música brasileira o é lá fora. Algo que só nós fazemos e somos copiados ao invés de copiar. O último filme que fez isso foi o já citado Cidade de Deus, mas isso já é página virada, deixamos o tempo passar e ao invés de inovar tentamos a todo custo refilmá-lo com ideologias diferentes, em lugares diferentes, com formatos diferentes.

Qual a característica positiva do cinema brasileiro que vale ser ressaltada?
Sem dúvida nenhuma o improviso, que por vezes é muito deixado de lado. E não digo só na interpretação dos atores, mas na confecção do próprio filme. As soluções encontradas pelos cineastas brasileiros para contornar os baixos orçamentos são dignas de aplausos. Devíamos ter um prêmio específico para isso no Brasil, e aí que o brasileiro se mostra realmente visionário e criativo.

O orçamento limitado atrapalha a qualidade de nossas produções?
Particularmente, um filme não pode ter defeito maior do que ser perfeito, ele se torna de plástico, forçado, inumano, sem alma. São raríssimos os filmes de mega-orçamento que representem algo além de entretenimento passageiro. Pode ser para alguns, mas creio que o cinema tem uma função bem maior do que ser um parque de diversão de luz e som apresentado no escuro.  É uma confecção cara, na qual você depende de equipamentos e equipe, mas um orçamento alto nunca foi sinônimo de filmes bons.  Logicamente se você quiser fazer um filme se apóie em efeitos, CGI, dublês, explosões, vai precisar de mais dinheiro, mas cinema não é só isso.

Como começar as mudanças necessárias no cinema nacional?
Incentivar novos cineastas. A todo custo. Fazer cinema além de caro hoje conta com a burocracia do sindicatos que tem atravancado muito mais do que auxiliado.



 Cláudia Neis

Cláudia Neis é estudante de Comunicação, ama ler, escrever, dançar, viajar... É aprendiz de fotógrafa, gosta de diagramação. È apaixonada por qualquer tipo de arte, e  viciada em café e chocolate. Sonhadora ela corre atrás do que acredita.

















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